O povo Português é o melhor povo do mundo, diz o Gaspar. É. Às
vezes um pouco tonho mas é um bom povo. Um povo trabalhador que só não faz mais
e melhor porque é mal dirigido, porque tem péssimos gestores – e estas são
conclusões acertadas de estudos antigos a que ninguém deu importância. É um
povo com uma capacidade de resistência acima da média. Às vezes resiste para lá
do aceitável mas é assim, de aguentar em silêncio, escondendo a miséria dentro de portas e sorrindo ainda que completamente destroçado; capaz de dar aos
outros o que a si lhe faz falta. Somo um bom povo, sim. Mas não somos povo para
sermos elogiados pela boca de quem nos fala como se fala a um cão. Pela boca de
quem profere “o povo Português é o melhor povo do mundo” como se dissesse “és o
cão mais lindo do dono”.
O povo aguenta para lá
do suportável – aguentou os Descobrimentos, aguentou uma ditadura, aguentou uma
guerra colonial, está a aguentar uma crise europeia – mas também fez derrubar a
monarquia, também fez derrubar um regime. O povo aguenta até ao momento em que
se cansa de aguentar. Porque o povo também tem orgulho, o povo também é
abespinhado. O povo sabe até onde a corda pode ser esticada e não aceita mais
do que isso. E eles sabem. Já tiveram provas. E têm medo. Sobretudo da sua
própria incompetência.