Linha da Beira Alta

31 de outubro de 2012


Faço esta viagem há 17 anos. Entretanto mudaram os comboios, melhoraram as condições das linhas, alteraram-se percursos, adicionaram-se transbordos e, naturalmente, também eu mudei. Gosto de comboios. Gosto do tempo de espera entre viagens. Gosto de estações. Gosto da pausa. Da sensação de estar em trânsito. De ser de todo o lado e de parte alguma. Gosto. Gostava. Já não sei.

De há oito anos a esta parte essa sensação sofreu mutações. O estar em trânsito passou a acompanhar-se da urgência de chegar e do medo de chegar, da angústia de não saber o que iria encontrar.

Oito anos depois do que foi o início do fim, cinco anos depois do fim em concreto, ainda chego com essa sensação de angústia. Ainda me apeio na estação com o coração embrulhado, com uma impressão de cansaço de que não voltei a libertar-me, com desalento.

Depois passa. Depois chego a casa e estão os meus homens e passa. Mas entre uma e outra curva do caminho que me trás a casa, há momentos em que julgo ver-te ao fundo da rua, à minha espera para me ajudares a transportar o saco, como fazias quando eu andava a estudar e vinha a casa de fim-de-semana.

E tenho saudades. Vir a casa torna as saudades mais acutilantes. Estás em todos os lugares onde já não existes e eu tenho de lidar com isso.




Rodrigo Leão c/ Neil Hannon - Cathy

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