Toulouse Lautrec - Two Friends |
Tirando o prefácio, Soy un bicho raro (Odd Girl Out) de Ann Bannon, foi provavelmente o livro mais mal escrito que li nos últimos tempos
mas não necessariamente o pior. Não me vou estender em criticas literárias e de
estilo; neste caso a classificação atribuída ao livro - Lesbian Pulp Fiction -
é mais do que suficiente mas vou partilhar dois ou três aspectos interessantes
que têm a sua importância como estudo sobre aqueles que nos precederam e sobre
aqueles sobre cujos ombros hoje nos erguemos para levantar alto a bandeira de
uma certa liberdade e de um certo direito à indiferença.
Considerando que na América dos anos 50, altura em que esta saga começou a ser publicada, o papel da mulher na sociedade era basicamente
o de uma figura decorativa, ter existido quem escrevesse sobre esta forma subversiva de amar e, sobretudo,
de entender o amor requereu uma boa dose de coragem.
Odd Girl Out quebrou o estereótipo de que a mulher homossexual
era exclusivamente de aparência e forma de estar masculina, considerou que o
prazer sexual feminino não era um mito mas um direito a que a mulher podia e
devia aspirar e – mais - que podia procurar. Na constatação e aceitação – por
parte da personagem principal – de que, apesar das convenções sociais que a
obrigavam a seguir um caminho pré-determinado, a sua orientação sexual jamais
seria conformada abanou as fundações de uma forma de pensamento obediente e
resignado que caracterizava a grande maioria da população feminina naquele
tempo.
O interessante do livro acaba por não ser o livro em si mas
aquilo que o livro despoletou. Foi lido por quem precisava de o ler, por quem
achava que não existia mais ninguém igual a si no mundo, por quem achava que
estava errado, que era doente; por quem negou – às vezes uma vida inteira – a
sua verdadeira natureza, por quem sofreu a infelicidade de não poder ser quem
era. Foi lido por quem precisava da pequena chama que iniciou toda uma
convulsão pessoal e por quem usou essa explosão do ser para incendiar as ruas
no clamor do direito a existir. Foi lido por quem iniciou esta batalha que ainda
hoje travamos mas que hoje – pelo menos na nossa parte do mundo – já se cumpre
a outros níveis. E já se ganha.
Há que ter respeito por estas mulheres que a custo, às vezes
da própria vida, olharam para lá da sua época e com os olhos nos nossos
sussurraram “tenham coragem”. Mesmo que tenham escrito livros de qualidade
muito duvidosa…
Adenda: Isto também me parece muito interessante
Adenda: Isto também me parece muito interessante