Lesbian Pulp Fiction

7 de dezembro de 2012

Toulouse Lautrec - Two Friends



Tirando o prefácio, Soy un bicho raro (Odd Girl Out) de Ann Bannon, foi provavelmente o livro mais mal escrito que li nos últimos tempos mas não necessariamente o pior. Não me vou estender em criticas literárias e de estilo; neste caso a classificação atribuída ao livro - Lesbian Pulp Fiction - é mais do que suficiente mas vou partilhar dois ou três aspectos interessantes que têm a sua importância como estudo sobre aqueles que nos precederam e sobre aqueles sobre cujos ombros hoje nos erguemos para levantar alto a bandeira de uma certa liberdade e de um certo direito à indiferença.

Considerando que na América dos anos 50, altura em que esta saga começou a ser publicada,  o papel da mulher na sociedade era basicamente o de uma figura decorativa, ter existido quem escrevesse sobre esta forma subversiva de amar e, sobretudo, de entender o amor requereu uma boa dose de coragem.

Odd Girl Out quebrou o estereótipo de que a mulher homossexual era exclusivamente de aparência e forma de estar masculina, considerou que o prazer sexual feminino não era um mito mas um direito a que a mulher podia e devia aspirar e – mais - que podia procurar. Na constatação e aceitação – por parte da personagem principal – de que, apesar das convenções sociais que a obrigavam a seguir um caminho pré-determinado, a sua orientação sexual jamais seria conformada abanou as fundações de uma forma de pensamento obediente e resignado que caracterizava a grande maioria da população feminina naquele tempo.

O interessante do livro acaba por não ser o livro em si mas aquilo que o livro despoletou. Foi lido por quem precisava de o ler, por quem achava que não existia mais ninguém igual a si no mundo, por quem achava que estava errado, que era doente; por quem negou – às vezes uma vida inteira – a sua verdadeira natureza, por quem sofreu a infelicidade de não poder ser quem era. Foi lido por quem precisava da pequena chama que iniciou toda uma convulsão pessoal e por quem usou essa explosão do ser para incendiar as ruas no clamor do direito a existir. Foi lido por quem iniciou esta batalha que ainda hoje travamos mas que hoje – pelo menos na nossa parte do mundo – já se cumpre a outros níveis. E já se ganha.

Há que ter respeito por estas mulheres que a custo, às vezes da própria vida, olharam para lá da sua época e com os olhos nos nossos sussurraram “tenham coragem”. Mesmo que tenham escrito livros de qualidade muito duvidosa… 

Adenda: Isto também me parece muito interessante

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