Há uns tempos, durante o almoço no refeitório
da empresa, conversava-se sobre relações e sobre o sacrifício e/ou potencial
sacrifício de estar longe da pessoa amada. A separação em questão dizia
respeito à emigração e as minhas companheiras de repasto manifestavam-se
veementemente contra aceitarem tal situação caso os companheiros ou maridos
dessem a entender essa vontade. E claro que entendo essa posição, é muito duro
estar longe de quem se gosta; mas o que me causou estranheza foram alguns dos
argumentos apresentados. Que uma pessoa se habitua a estar longe do outro e que
a rotina se altera ao ponto de, aquando do regresso, o que era de antes deixa
de ser porque não se está disposta a abdicar de uma liberdade readquirida. Ou
então que é mais fácil a tentação bater à porta e mais difícil de se negar
perante essa tal readquirida liberdade: a de não ter de prestar contas a
ninguém. E isso eu também entendo uma vez que considero que cada caso é um caso
e que cada pessoa é diferente, com valores diferentes e determinações
diferentes e com contas a ajustar, em última análise, apenas com a sua própria
consciência. Entendo e ao mesmo tempo não. Claro que a vida é feita de
imponderáveis mas, para mim, um compromisso é sempre um compromisso e existe
independentemente de tudo o resto.
Enquanto elas falavam de liberdade na
ausência do outro eu só pensava no quanto a minha percepção de liberdade mingua
quando tu não estás e em como por dentro se me instala um sentimento de
estranho vazio que não obedece a nenhuma disciplina a que tente obrigar-me para
que a vida decorra normalmente até ao teu regresso.
E enquanto elas falavam de habituação à
ausência eu só me lembrava dos nove meses que passaste na Holanda e na memória
que tenho deles como uma grande prova de sobrevivência. Minha e tua. Em como a
vida se colocou em suspenso e o calendário se transformou num simples dia. Um a
seguir ao outro. Como se não houvesse passado. Como se não houvesse futuro.
Apenas o hoje com a segurança das suas escassas 24 horas. Em nenhum momento fui
capaz de me habituar à tua ausência e, hoje, à luz da distância, tenho muito
respeito por esse nós que teve coragem para aguentar. Percebo agora que muitos
não conseguiriam... nem se dariam ao trabalho.
Faz-me tanto sentido este texto. Habituação à ausência, não sei o que isso é. Nunca consegui habituar-me à ausência da Rita, enquanto estudei em Lisboa. E é mesmo o que dizes. Não há passado nem futuro, existem apenas dias que custam a passar, uns a seguir aos outros. E, para mim, liberdade é o que tenho agora. Agora, que estamos juntas e não temos km a separar-nos, é que sou livre, e não quando estava em Lisboa e vivia presa às saudades, ao desejo de largar tudo e voltar para junto de quem amo.
ResponderEliminarE sim, há muita gente que não se daria a este "trabalho"!
Nem toda a gente nasce para saber amar a distancia. Mas é preciso um grande Amor para superar, aguentar e continuar a manter o mesmo sentimento, á distancia. E ainda bem que ainda existem amores assim :D força e que a distancia entre voces sejam sempre pequena. beijinho as duas
ResponderEliminarA distância nunca é grande e existe por causa de outros amores a que também é preciso dar atenção e junto de quem também é preciso ir estando. Mas sim, é preciso estofo para aguentar a distância, sobretudo quando ela é efectivamente grande. O que acontece é que, nos tempos que correm, parece ser mais fácil partir para outra do que lutar pelo que se tem. As relações parecem facilmente descartáveis e isso faz-me um pouco de confusão. Sinais dos tempos, dirão alguns... :)
ResponderEliminarBeijos às duas.