Quem trabalha com o “grande público” acaba
por tomar contacto com uma amostra bastante significativa da população de um
País. Em termos estatísticos é possível obter, ainda que de forma muito pouco
cientifica, uma ideia daquilo que somos e da forma como os comportamentos
individuais influem no nosso destino colectivo.
Ao trabalhamos com outras instituições
verificamos também que existe um efeito dominó com contornos de desgraça que
está enraizado na forma como fazemos as coisas. Não as fazemos bem logo desde o
inicio e contamos que seja sempre o próximo na cadeia alimentar a resolver os
problemas que tiveram origem nas nossas decisões – ou falta delas.
Quando se fala em crise de valores existe
efectivamente uma crise de valores. E os nossos problemas, obviamente
económicos, agravam-se - se é que não têm origem - na forma como achamos que
podemos seguir pela vida impunes, reclamando direitos imaginários e recusando
cumprir deveres básicos, basilares, essenciais ao correcto e justo
funcionamento das sociedades.
Nestes últimos dias os meus colegas e eu
temos ouvido coisas assustadoras, de tão absurdas, da parte de alguns clientes.
E porque as “pérolas de sabedoria” têm surgido de todo o lado não se pode
imputar apenas a um grupo social a culpa por todos os males. A falta de bom
senso é transversal a toda a sociedade; tão estúpido é o pobre como o rico. E é
assustador.
É assustador porque, na maior parte do tempo,
sinto que “estamos entregues aos bichos” e que resistir - tentando ser
coerente, correcto, bom cidadão e bom trabalhador – cada vez mais parece não
valer a pena.
Anda me indigno muito e acho que é essa
capacidade para ainda me indignar que me tem permitido não perder a perspectiva
daquilo que é correcto e daquilo que está errado; mas temo que um dia as coisas deixem de me ser
assim tão importantes e eu faça como os outros e apenas encolha os ombros e
siga no meio do rebanho. E no meio de tudo o que assusta é isso o que temo
mais: deixar de me importar..
... porque às vezes dá mesmo vontade...