Começo as férias com um murro no estômago. As coisas que
acontecem só aos outros acontecem também perto de casa, aos nossos. Temos de
estar atentos, temos de estar ligados. Numa época em que a comunicação é o mote
e a inspiração temos de rebentar a bolha para onde esse conceito nos remete e
isola e conectar-nos realmente. A vida não pode ser apenas contada e ter valor
pelos posts do facebook – há tanto que fica por dizer nas entrelinhas dos
smiles – há que estar cara a cara, há que escutar a voz sem a interferência de
um satélite, há que perceber no semblante e no olhar o que fica por dizer
depois de todas as palavras proferidas. Há que estar presente. Há que reservar
uma parte do dia – por diminuta que seja – ao cuidado de saber como estão os
outros; sair de nós, perceber o que nos rodeia, fazer parte do mundo, fazer
parte dos outros, fazer ligação à terra.
A vida por si só é uma grande surpresa e quando as más
acontecem às vezes é tarde demais. Temos de prevenir o tarde demais. Temos de
estar atentos. Temos de cuidar uns dos outros.