É a relva, ó estúpido!

27 de junho de 2015




Hoje estou meio quezilenta e apetece-me disparar em todas as direcções. Tudo porque – para além dos acontecimentos do dia -  estive também a ver a Alemanha a jogar contra a França no Mundial de Futebol Feminino e lembrei-me de ter lido que a FIFA decidiu, unilateralmente, testar piso sintético neste campeonato; não fazendo a mesma experiência – que espanto! – em nenhuma das grandes competições masculinas, actuais ou futuras. 

É claro que a questão, aqui, vai muito para além do piso do estádio. É discriminação de género pura e dura. É dizer a estas mulheres que o jogo delas é de segunda classe. É dizer-lhes que são inferiores. É mostrar-lhes que não merecem melhor. É negar-lhes poder.

E quando lhes negam poder não o fazem apenas apenas a vinte e uma jogadoras em campo, fazem-no a todas nós; sobretudo a quem precisa de bons exemplos para se auto-determinar.

A beleza do futebol feminino, ou de qualquer outro desporto em que as mulheres participem, ultrapassa o mero espectáculo e a mera curiosidade. Hoje, enquanto via o jogo e me divertia com ele, enquanto reconhecia a grande qualidade do mesmo e resmungava entre dentes “tomara muito gajo”; quis pensar que, em qualquer canto deste mundo estranho e tão injusto, uma menina assistiu ao mesmo jogo – ou ouviu falar dele - e percebeu que também ela pode chegar ali: aos quartos de final de um campeonato do mundo. Ou à sala de aulas de uma universidade. Ou a um trabalho que lhe permita ser independente. Percebeu que não deve existir nada a impedi-la de tentar e que se houver, tem o direito de ultrapassar todo e qualquer obstáculo que se interponha no seu caminho.

Assistir a um jogo em que mulheres desafiam os seus limites e são reconhecidas pelo seu valor, em que se mostram ao mundo com toda a sua plenitude e força, com orgulho e determinação, pode ser uma epifania. Pode ser o motor que leva a uma mudança radical de paradigma, mesmo que essa mudança comece por ser, apenas, interna. Às vezes é o que basta. Na verdade é por aí que tudo começa.

Quando a Fifa – e não só – se lembra de fazer coisas destas está a retirar direitos e a descartar-se dos seus deveres. Está a revelar que o preconceito contra as mulheres está ainda muito enraizado na nossa sociedade e que não é “atributo” exclusivo dos menos educados mas também, o que é mais perigoso, de quem deveria saber mais e melhor. Está a revelar que as instituições não oferecerem segurança nem estão preocupadas com isso. 


Se homens e mulheres jogam o mesmo jogo, as condições têm de ser exactamente as mesmas. Ponto final! Quem tem o poder nas mãos, deveria pensar muito bem nas consequências da sua aplicação e nas mensagens que passa. É que, às vezes, por elas não serem evidentes, ferem mais. Porque não era suposto ser assim. Porque era suposto já não ser assim.

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