Hoje, a propósito de um comentário do género: “dizer boa-noite aos clientes pode parecer que estamos a tentar despachá-los” e que, naturalmente, motivou uma sessão de resmungos em loop da minha parte – com referências a “só se for nos antípodas da boa educação” e outras coisas menos agradáveis de se ouvirem e proferidas entredentes – ocorreu-me que há uma série de expressões que passei a infância a ouvir e que, com o passar do tempo, à medida que ia desaparecendo quem as dizia, se extinguiram do meu vocabulário.
A minha mãe chamava “vocemecê” à minha avó. Os velhos diziam que estavam “rijos como o sol de inverno” e “até amanhã se Deus quiser” e “bem-haja” e “cachopa” e “abalar”. E mais coisas, tantas coisas de que tenho saudades. Que soavam tão bem e faziam tanto sentido e que eram tão doces como bem-educadas.
O mundo em que vivo vivemos hoje não anda: tropeça nele mesmo; e é feito de tantas incongruências que, mais vezes do que não, dou por mim aparvalhada a tentar perceber o que me atingiu com tanta violência e contradição. Tentamos tanto aprimorar formas de relação que nos transformamos na versão estilizada daquilo que deve ser um ser humano. Tão estilizado e aperfeiçoado [padronizado] que um simples “boa-noite” adquire uma dimensão maquiavélica e deixa de ser uma regra básica da boa educação.
O que importa é que continuem a haver "cachopas" que não deixem "abalar" esses costumes, porque eles fazem parte do nosso passado, da nossa tradição, do nosso vocabulário.
ResponderEliminarPor isso, "bem hajam" aqueles que reconhecem o valor das palavras!
Um abraço e "até amanhã se Deus quiser"!
:)