Susan Sontag

17 de dezembro de 2013


A questão que mais me assalta e que já me assaltou aquando da leitura do primeiro volume de diários de Susan Sontag, é o que passará pela cabeça do filho – a quem coube a tarefa de os editar – ao confrontar-se com esta versão, às vezes tão despida, da sua mãe. São páginas cheias de anotações de carácter académico – muitas das quais quase indecifráveis para mim – mas também de considerações pessoais, dolorosas, profundamente humanas e que revelam uma pessoa com uma consciência muito acutilante das suas próprias falhas, muito céptica não da sua capacidade de amar mas de ser amada, tão presa aos escombros da infelicidade que lhe provocavam as mulheres com quem se relacionava e de quem, de uma forma ou de outra, nunca se sentia à altura.

Ao mesmo tempo que não invejo a tarefa do filho de Susan Sontag, invejo-o. Para um filho, compreender um pai é a tarefa a que se dedica com mais resistência, sobretudo porque essa intenção – a de perceber e, acto contínuo, perdoar – tem de partir da aceitação das suas próprias falhas e dos seus próprios erros e da capacidade de acolher o outro com todas as suas fragilidades e incongruências. O que, naturalmente, não é fácil. Sobretudo quando levámos uma vida inteira a acreditar que aquilo que víamos era aquilo que eles realmente eram.

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4 Responses to “Susan Sontag”

  1. Há muito tempo que não lia um post tão bom por aí!
    Pessoalmente acho que no fundo ela era uma chata naquele tempo em que andava na faculdade... Ou muitas das passagens dos seus diários é que eram...

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    1. Thanks... :)
      Sim, era um pouquito chata... mas acho que era por ser tão nova e tão absolutamente segura das suas convicções... como a todos nós, a vida tratou de as deitar por terra. E no fundo, no fundo, debaixo de toda aquela aura de mulher literada e muito do seu tempo, estava alguém muito frágil que procurava escudar-se por detrás de um véu de arrogância.

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  2. Parece ser sempre assim, não é? Quero dizer parece ser um estereótipo. Tantas certezas e depois pufff se as pessoas forem mesmo inteligentes, tanto que conseguem fazer uma auto-crítica construtiva para se tornarm maiores do que elas próprias :)

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    1. Acho que é assim com toda a gente. Todos temos muitas certezas e depois pufff. :) A sabedoria talvez esteja nisso mesmo... não ter certeza de nada e deixar espaço para a surpresa.

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