Também a ler “Teresa e Isabel” de Violette
Leduc – a tal novela tanto tempo censurada e tão tardiamente publicada – ocorreu-me
ir ver em que ano foi publicado “Sexus” de Henry Miller. E qual o meu espanto –
ou não – quando a wikipedia me revela que foi publicado em Paris –
espantemo-nos com a cidade – em 1949. E espantemo-nos com a cidade porque,
cinco anos mais tarde, no mesmo local das luzes e da modernidade, Violette Leduc vê
recusada a publicação da sua novela. O porquê já sabemos. É um porquê que
continua com amarras bem presas nos dias de hoje.
Leduc era mulher. Primeiro ponto. Bastaria
apenas este.
Segundo ponto, Leduc era mulher e era
lésbica.
Terceiro ponto, Leduc era mulher, lésbica e falava
sem pudor e em pormenor da sexualidade e sensualidade femininas.
Quarto ponto, Leduc exultava o prazer
feminino. Como podia tal?
Quinto ponto – que deve ter feito muita
confusão na cabeça daqueles homens – Leduc exultava o prazer da mulher às mãos
de outra mulher.
Sexto ponto, Leduc falava da sua própria
experiência. A definitiva ousadia.
De Henry Miller diz-se que não há escritor
mais honesto. Talvez. Não sei. Tinha vinte anos e consegui ler metade de “Sexus”
– nunca mais lhe peguei. Talvez fosse o escritor mais honesto mas mesmo que não
fosse era meritório desse elogio pelo simples facto de ser homem e falar
despudoradamente do seu pénis murcho incapaz de perform – entre homens não há honestidade mais crua. E não está mal, não é o seu
talento que está em causa mas a forma como se fazia – e ainda se faz – a escolha
do que é bom e do que não vale a pena. Num mundo fálico, o editorial também, é
óbvio sobre quem recai a escolha e o escárnio com que se deita ao lixo o que,
para eles, não presta. Para com a mulher continuam a ter certa condescendência.
Sou levada a pensar que a novela de Leduc não
foi tanto censurada pelo seu conteúdo e pelas suas descrições mas por receio de
que a sua revelação levasse à libertação da consciência da mulher e à
reclamação dos seus direitos como ser sexual. É uma bela teoria da conspiração,
não?
Não sou feminista ferrenha mas tendo a ser
cada vez mais feminista. Sou-o por observação – salvo raras excepções - do
comportamento masculino no meu local de trabalho e pelo comportamento masculino
de uma forma geral. Sou-o também pela observação de um determinado
comportamento feminino mas isso são outros quinhentos. A verdade é que isso da igualdade, volta e meia, faz-me rir.
Claramente.
ResponderEliminarAlgo semelhante aconteceu com a Lota, arquitecta paisagista brasileira, companheira da poetisa norte-americana Elisabeth Bishop, que tenho a sensação que tentaram (em vão) evaporar da História do Rio de Janeiro e do Brasil [Filme brasileiro "Flores Raras" e Livro "Flores Raras e Banalissimas".
Tenho de ler esse livro!
Com tantas provas de que a diversidade é uma mais valia é irritante como se continua a fazer a apologia do que é "normal", moralmente aceite, padronizado. Das sombras não reza a História. A História é feita de quem ousou não ter o medo de perder tudo.
EliminarE eu tenho de ver esse filme. :) Depois conta do livro.
Ups... *Elizabeth
ResponderEliminarHum, tenho de ler esse livro.
ResponderEliminarTambém sou "Casualmente" feminista, sempre que tem de ser lá "queimo um sutian ou dois", engraçado que o faço muita vezes com mulheres, que conseguem ser ainda mais machistas que alguns homens!
Já agora sabes se o livro está disponível em PDF ou noutro formato na net?
Olha, parece que o livro esteve disponível no scribd mas já não está lá. Pode ser que encontres alguma versão brasileira mas ler "ninfetas" em vez de "jovens raparigas" a mim tira-me o apetite para o ler... ainda mais quando procuro o significado da palavra e me aparece isto: "Uma ninfeta é um estereótipo de menina adolescente sexualmente hiperdesenvolvida e sedutora." Tudo o que elas não eram... lol. Se tanto eram umas ninfetas um bocado taralhoucas. Mais taralhoucas que ninfetas... sim, bem mais taralhoucas.
EliminarExiste uma edição da Livros do Brasil, que é a que eu tenho e que podes tentar encontrar ou na biblioteca da tua cidade ou tentar encomendar nalguma livraria. Pode ser que a editora ainda tenha stock e não o tenha vendido na integra a esses mercados de livros baratos que agora há por aí.
Agora, prepara-te, é daqueles dramalhões franceses que a páginas tantas te faz querer dar uma par de estaladas nas gaiatas para ver se elas atinam. Mas lido à luz da altura em que foi escrito e considerando o quanto custou edita-lo... é muito interessante.
Ah, mas eu gosto de dramalhões franceses! Vou procurar :)
EliminarObrigada