Nem
sei como vos conte porque há coisas que só se entendem realmente
quando experienciadas. Não sei como vos falar do cheiro sem que vos
leve pela mão até à parte galega do Gerês e vos guie por entre a
urze ou me embrenhe
convosco pela Mata da Albergaria e nos faça perder, sem medo, pelos
seus bosques de carvalhos milenares.
Não
sei como vos falar do silêncio. É um silêncio entrecortado pelo
barulho dos pássaros e pela presença constante de cursos de água
mas silêncio, ainda assim. Um “silêncio” que não fere nem
invade mas que nos envolve e sossega.
Não
sei como vos falar da aspereza poética das montanhas, nem dos
caminhos íngremes
e estradas de sonho que as percorrem e da vontade que nos assola de
nunca mais as deixar. De como nos sentimos tão pequenos perante tal
imponência mas tão orgulhosos por ela ser nossa.
Não
sei como vos falar da doçura das gentes, dos seus rostos curtidos
pelo sol, das suas mãos ásperas pelo cajado que orienta os animais,
do seu olhar que esconde dor e cansaço mas que ainda consegue
sorrir-nos.
Não
sei como vos falar da pureza da água, dos seus tons de verde e azul
e de como a sua persistência ao longo do tempo esculpiu na rocha
piscinas naturais para onde, apesar do frio, nos apetece mergulhar só
porque sensação mais bela não deve haver.
Não
sei como vos falar da exuberância do verde das árvores e da
vegetação nem da força do azul das albufeiras nem de como
paisagens lunares – de montanhas completamente despidas – davam
lugar, na curva a seguir, a bosques de contos de fadas.
Não
sei como vos falar desta coisa por dentro que, de repente, esquece a
cidade e a sua impessoalidade e encontra sentido. Que, com maravilha,
sente que está no momento em que deve estar, absorvendo a vida, e
não nesse constante trânsito entre estados de alma.
E
não consigo falar-vos da tristeza que nos toma na partida porque
ainda a sinto. É agridoce, delicada, porque carrega em si a promessa
e a certeza do regresso. É que vimos muito mas muito ficou ainda por
ver. É preciso uma vida inteira para absorver o Gerês por
isso, não percam tempo. Ide. Mas cuidado, podeis não querer voltar.
Fantástica descrição em 5 sentidos!
ResponderEliminarAdorei! Fiquei cheia de vontade de visitar o Gerês. Nunca lá estive :)
ResponderEliminarDescrição vinda diretamente do coração e da alma!
ResponderEliminarGrave lacuna, não conheço o Gerês...o tempo que passo no continente não dá para tudo...e esse é um dos destinos que por diversas vezes já falámos e adiámos, no entanto, com essa eloquência ainda me deixaste com mais vontade de lá ir.
Abraço
Bonita descrição! Quem quer ir? ;)
ResponderEliminar:) Pois então, ide quando tiverem uma oportunidade e fiquem alguns dias para aproveitarem ao máximo. Nós conhecíamos o Gerês muito mal - sempre de passagem - e os dias que lá passámos acabaram por superar todas as expectativas que tínhamos. É daqueles destinos que temos de visitar antes de morrer e onde temos de voltar e por onde temos de nos perder.
ResponderEliminarExiste um programa anual de caminhadas, para quem gostar de se aventurar por carreiros e ravinas mas andar nas calmas estrada fora também se recomenda.
Que lindo! Dá mesmo vontade de visitar! E as fotos estão excelentes! :)
ResponderEliminarO blog tem mail? Gostava de contactar-te para fazer uma pergunta.
ResponderEliminarOlá, sim tem. Não tinha reparado que estava oculto. Manda para tracadoslivros@gmail.com
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